Pé ante pé...
Chegaram à aldeia.
E voltavam todas as noites...
A Fábrica das Histórias/ Casa Jaime Umbelino é sempre um lugar especial por onde as marionetas gostam de andar. O ruído da madeira quando caminhamos, o cheiro da casa, o pormenor das portas, o tecto, os azulejos... é impossível ficar indiferente.
Nesta história reuni vários objectos e lembranças que de alguma forma estão relacionados com as minhas memórias, seja a história que era contada pela minha mãe, os moldes dos sapatos e banco de sapateiro que pertenciam ao sapateiro da aldeia onde vivi. O baú embora não me esteja directamente relacionado, pertence à colecção Jaime Umbelino, é um baú século XVII e certamente que também ele tem muitas histórias para contar.
Marionetas, Olga Neves
Fotografia, Olga Neves
Montagem da exposição, Rui Silva e Olga Neves
O Sapateiro e os Anões
Era uma vez um pobre sapateiro que vivia numa pequena casa
com a sua mulher.
Eram os dois tão pobres, mas tão pobres, que não tinham
dinheiro nem para comprar o cabedal com que o sapateiro poderia continuar a
trabalhar.
Uma noite o pobre sapateiro, cansado e infeliz, decidiu ir
deitar-se depois de haver cortado o último pedaço de cabedal que lhe restava.
As esperanças de vender os sapatos, que na manhã seguinte haveria de fazer com
ele, não eram nenhumas, e aos seus vizinhos também não poderia pedir ajuda pois
todos eram, como ele, demasiado pobres. E foi nesta angústia que
adormeceu.
No dia seguinte, com grande espanto, encontrou no lugar do
cabedal que havia cortado, uns lindos sapatos, brilhantes e muito bem feitos.
Mal se havia recomposto do espanto e da alegria quando viu
entrar na loja um nobre cavalheiro que, de imediato, lhe comprou o par de
sapatos e, como deles gostou muito, deixou ao sapateiro uma reluzente moeda de
ouro.
O sapateiro não cabia em si de felicidade e curiosidade.
Quem teria feito aqueles sapatos? Sem tempo a perder comprou nesse mesmo dia
mais cabedal em que recortou dois novos pares de sapatos e foi-se deitar na
esperança de que o mesmo voltasse a acontecer.
Para sua alegria, no dia seguinte, voltou a encontrar dois
novos pares de sapatos, brilhantes e muito bem feitos. Exatamente no mesmo
sítio.
E também estes dois pares de sapatos não esperaram muito nas
prateleiras da sua loja porque, devido à sua beleza e perfeição, logo tiveram
compradores.
O sapateiro voltou a comprar o cabedal e o mesmo se foi
repetindo noite após noite após noite.
Um dia marido e mulher, cansados de matutar sobre como
acontecia o cabedal virar sapatos de qualidade e beleza, sem a mão de nenhum
deles, resolveram ficar acordados para tentarem descobrir quem tanto os
ajudava.
No silêncio da noite viram então dois pequenos anões
entrarem pela janela e dirigirem-se ao local onde o sapateiro trabalhava para
depois, muito rapidamente, executarem os novos sapatos. A seguir, e tal como
haviam entrado, assim os viram sair.
Os anões não tinham roupa, estavam completamente nus, e o
sapateiro e a mulher decidiram que lhes haveria que retribuir o favor e, por
isso, foram comprar umas roupas muito bonitas que deixaram ficar junto ao
cabedal cortado na noite que se seguiu à descoberta.
Quando os anões voltaram nessa noite à casa do sapateiro e
da sua mulher, depararam com umas minúsculas mas belas roupas, mesmo à sua
medida. Vestiram-se e, de tão felizes que estavam por terem roupas tão bonitas,
dançaram e pularam a noite inteira.
Depois nunca mais apareceram, mas o sapateiro ficou-lhes
eternamente agradecido pela ajuda que lhe tinham dado num momento tão difícil
da sua vida.
Quanto
aos clientes continuaram a acorrer vindos de muito longe, porque a fama dos sapatos
sendo tanta percorrera já muitas e muitas léguas em redor da casa do sapateiro
que, todos os dias, se continuou a esforçar para ter nas prateleiras da sua
loja os mais belos pares de sapatos do mundo.Conto registado pelos irmãos Grimm
Marionetas Olga Neves
Fotografia João Maçarico
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